domingo, 5 de maio de 2013

A Clockwork Orange

By Alex Miranda 
Há quase cinco anos, criei esse blog para uma disciplina de Jornalismo On-line. O interessante é que ninguém deve ter acessado essa mídia e nenhum texto aqui, sequer, recebeu algum comentário. O fato de ter que publicar um trabalho em um blog, agora para outra disciplina e em outra graduação, trouxe-me o desejo de resgatar esse espaço que já se encontrava esquecido. Primeiro, foi necessário um esforço para resgatar a senha e depois, já que o tema é arte, definir qual delas seria mais propícia a esse “humilde narrador”. Logo me veio à cabeça delinear sobre a sétima. Para escolha do filme, uma pequena viagem no tempo. Mais precisamente em 1971. “A Clockwork Orange”. Isso mesmo, “A Laranja Mecânica” de Stanley Kubrick. Vamos ao texto... 

Para falar sobre o filme A laranja Mecânica, é preciso relembrar alguns acontecimentos da época, não necessariamente na ordem cronológica, mas fatos que podem ter influenciado Kubrick em sua produção, já que sempre há uma intertextualidade entre as produções do cinema e os acontecimentos de seu tempo. Muito embora, há quem diga que o diretor, perfeccionista por natureza, tenha feito um filme prevendo o movimento punk de cinco anos há frente, a conjuntura do fim dos anos 1960 e início de 1970 deve ter alguma participação para a construção da história.

A sociedade estava a flertar com acontecimentos recentes e importantes de 1969, mas também com cenas de violência, como a chegada do homem à Lua e o assassinato da atriz Sharon Tate, respectivamente. O ano seguinte marcou as mortes de Janis Joplin e Jimmy Hendrix, as quais precederam a do astro do rock Jim Morrison em 1971. No Brasil, dois fatos, tornávamos tricampeões mundiais em 1970 e vivíamos uma ditadura militar. Esse último levou à proibição de A Laranja Mecânica nos cinemas brasileiros. É provável que Stanley Kubrick levasse em consideração os acontecimentos de sua época para a construção deste filme, tão intrigante, que tem atravessado décadas e ainda é tema de discussão e estudo no campo cinematográfico. 

A opinião deste “humilde narrador” pretende abster da analogia aos motivos que levaram à construção deste filme e tentar construir um breve estudo daquilo que, em particular, pude entender, ou achei ter entendido, desta obra. A Laranja Mecânica é um filme violento, mas que se confunde com um musical e com encenações teatrais. Os movimentos alinhados, harmonicamente, às músicas clássicas de Wendy Carlos, Ludwig Van Beethoven e Gioacchino, além de uma fotografia impecável, para muitos a característica principal de Stanley Kubrick, tornam essa produção fantástica. 

As cenas de violência deste filme, pela sintonia com a música clássica, me remete aos conflitos dos personagens do desenho animado Ton e Jerry e isso acaba transformando aquilo que deveria ser chocante em situações até engraçadas. Em uma dessas construções, uma gangue rival de Alex Delarge (Malcolm McDowell) está violentando uma jovem em um palco de um teatro, em que encenação de atores e música estão em harmonia. Na sequência, Delarge e seus “drugs” promovem uma quebradeira com os rivais enquanto a vítima foge. Este é, para mim, um exemplo de como Kubrick fala de violência pela desconstrução dela.

Não menos importante, o ator Malcolm MacDowell exibe uma performance ainda hoje reverenciada por muitos, enquanto Alex Delarge, um jovem preconceituoso, violento e frio que rouba residências, violenta e espanca suas vítimas. No entanto, em todas essas manifestações há uma exibição da violência aliada à sua desconstrução, hora pela associação à música, hora pelos objetos usados como arma. Delarge violenta uma de suas vítimas cantarolando a canção Singing in the Rain de Gene Kelly e acaba se tornando assassino por matar uma de suas vítimas com um objeto que representa o órgão genital masculino. Este último crime o levou á prisão por dois anos.

Para sair da prisão, o jovem Alex se torna voluntário em um programa de reabilitação que depois acaba se revelando um sistema de manobra política. Uma técnica behaviorista que consiste em prendê-lo por horas à frente de uma tela que passa incessantes cenas de violência. Delarge até passa a ter enjoo diante de qualquer coisa que lembre violência, mas só por um tempo. No entanto, a violência sempre esteve na vida de Alex Delarge que revela sua cura ao final da história, deixando claro que seu estado normal é o do jovem delinquente de sempre.

Um filme interessante e intrigante, do qual não sei dizer se tem como tema a violência, a política, o futuro da juventude ou todos esses assuntos ao mesmo tempo. O fato é que essa obra atravessou quatro décadas e ainda há de perdurar por outras mais. Esse filme é tão apaixonante que me levou à cópia grosseira do personagem Alex Delarge na foto abaixo, mas é claro que ninguém pode representar, na sua essência, essa figura que Malcolm fez com tamanha singularidade.


                              Endy Araújo

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